Luto

O que é o luto pela perda de um ser querido?

O luto é um tempo necessário para poder expressar as minhas emoções, encontrar o significado para o que estou a viver, reconstruir-me ao meu próprio ritmo. É um processo natural de adaptação à perda e, apesar do sofrimento que esta experiência comporta, restam-me algumas forças para cuidar de mim e cuidar dos que estão à minha volta. É sobretudo o trabalho pessoal realizado que me prepara para aprender a viver sem a presença física da pessoa falecida.

O luto não é unicamente a perda física desse ser que tanto amo mas supõe a perda da relação, a perda do contacto com essa pessoa e que leva, em parte, à perda de contacto comigo mesmo.

O luto é um processo natural, universal. O luto não é uma doença, ainda que sem dúvida possa adoecer se não cuidar de mim nesta fase. É um caminho transformador e de autoconhecimento através do qual descubro-me cada vez mais de forma diferente daquilo que era. Este caminho pelo luto, vivendo e expressando aquilo que sinto, dar-me-á novos recursos para lidar com o dia-a-dia, e ainda que agora não possa vislumbrar tal coisa, vou dar-me conta de quem quero ser e de como quero estar agora no mundo e com os outros.

Que sintomas posso ter?

Quando falece um ser querido, é normal que sinta tristeza, abatimento, saudades, zanga, medo, raiva, culpa, ou uma mistura de todos estes espectros emocionais ao mesmo tempo. Apesar de ser uma reação normal, em determinados momentos posso chegar a pensar e a sentir que são sentimentos demasiados intensos para poder suportá-los, podendo também originar-se pensamentos e comportamentos difíceis de entender. Todas estas expressões que são evidenciadas não significam que estou doente. Todas estas respostas orgânicas têm a sua função psicológica para poder-me adaptar ao sofrimento tão grande que estou a viver.

Tenha presente que o luto é uma vivência multidimensional que afeta tanto o nosso corpo como as nossas emoções, relações, pensamentos, comportamentos e o nosso registo de valores e crenças.

Síntomas físicos: vazio no estômago, aperto na garganta, opressão no peito, hipersensibilidade ao ruído, dores musculares, boca seca, etc.

Emocões: tristeza, solidão, falta de esperança, culpa, ansiedade, confusão, raiva, medo, zanga…

Comportamentos: alterações do sono e apetite, perda de interesse, evitar lugares que o façam recordar da pessoa falecida, procurar a pessoa, abuso de substâncias, etc.

Pensamentos: confusão, não acreditar, preocupação, sentir a presença do falecido/a, etc.

Sociais: isolamento, dificuldades nas relações interpessoais, etc.

Espirituais: Procura de sentido, hostilidade/zanga para com Deus/igreja/entidade religiosa, perda ou aumento da fé, etc.

 

O processo de luto é igual para toda a gente?

Cada pessoa é única e, por isso, sentimos e expressamos o sofrimento das nossas perdas de forma distinta. Não há lutos iguais. Inclusivamente a mesma pessoa irá experimentar lutos diferentes porque vai-se transformando ao longo da vida.Há pessoas que expressam as suas emoções com facilidade e partilham aquilo que estão a experienciar com a sua rede de suporte (família e amigos, etc.). Outras pessoas, contudo, adaptam-se à dor da perda evitando recordar-se do sucedido investindo o seu tempo em outras atividades. Não devemos comparar a nossa dor nem fazer juízos de valor. Não há um luto pior nem mais válido que outro. Cada pessoa vive a sua dor e só ela conhece como e quanto determinada perda dói.

 

Quanto tempo dura o luto?

Um luto não se supera porque o tempo passa, mas porque me comprometo a fazer um trabalho de luto. Uma coisa é estar em luto e outra muito distinta é realizar o luto. O tempo por si só não nos garante que o luto se realize, o que importa é o que fazemos com esse tempo. Os dois primeiros anos costumam ser os mais difíceis, sentindo-nos melhor pouco a pouco.

 

O que é um trabalho de luto?

O trabalho de luto é o compromisso que tomo comigo mesmo e com a vida para avançar na dor e no sofrimento que estou a sentir com a perda do meu ser querido, com o objetivo de recordá-lo e senti-lo sem que me doa tanto. É um processo, por isso, ativo.

Quando perdemos a um ser que amamos, invade-nos a tristeza, a culpa, o medo, a raiva, sendo necessário que nos permitamos viver todas estas emoções, possamos expressar tudo o que sentimos, dar significado. Pouco a pouco, estas emoções vão diminuindo de intensidade deixando um espaço para o amor e a gratidão para com essa pessoa que esteve na nossa vida.

O processo de luto dói. E dói porque amamos. Este amor nunca morre. Estará sempre connosco e, aos poucos, dará frutos nas nossas vidas.

No início posso ter a sensação que vai ser impossível superar a dor. É extremamente difícil viver sem a presença da pessoa que amo, que agora já cá não está e não vai voltar a estar nunca mais. Irá parecer mentira que possa recordar o meu ser querido sem dor, sem agustia, mas é possível.

Não tenha medo de esquecer-se do seu ser querido. Esse não é o objetivo do processo de luto. O objetivo é que se dê permissão a sentir a dor para poder atenuá-la mais tarde.

É importante que possa contar com apoio, partilhar a sua aflição quando precisar de fazê-lo. Sozinho às vezes é muito difícil, sobretudo se temos profundos sentimentos de solidão, se a ausência do ser querido provoca uma enorme tristeza ou se não sente motivação para nada. Tudo isto faz com que não possamos avançar no processo. Nestas situações pode facilitar ter alguém que acompanhe a expressão daquilo que está a sentir, o oriente, o ajude a por consciência na relação que tinha com a pessoa falecida e lhe ajude no processo de reconstrução para poder voltar a viver.