Posso Chorar? Pode e deve!
Por falta, por medo ou por preguiça na utilização das ferramentas empáticas, desconsideramos não poucas vezes o sofrimento do outro boicotando a sua expressão emocional. Patologizamos a dor porque ela assusta-nos, arrasa a nossa desejada funcionalidade quotidiana ao despertar as nossas inquietudes internas, que tentamos manter abotoadas sabe-se lá onde e como.
Quando choramos pedimos, sem palavras, o cometer da dimensão empática de um interlocutor, esperando dele uma conduta de aproximação (Freitas-Magalhães, 2015) algumas vezes na esperança de um consolo para uma dor indizível, como o caso da perda de um alguém amado que partiu e que queremos restabelecer na nossa vida.
Sabe-se que o chorar é um acto universal, existindo essencialmente dois tipos de lágrimas, as basais, cuja função é lubrificar a cavidade ocular, e as lágrimas emocionais, com uma função de cariz mais social, relacional.
As investigações apontam para que o choro tenha surgido antes da linguagem falada como uma expressão para comunicar dor (dor física, medo, raiva, humilhação, solidão, tristeza).
Desde o choro do bebé até ao choro pela morte de alguém, as lágrimas comunicam, funcionando como um mecanismo natural de libertação e, portanto, de cura.
Em determinadas situações, o nosso cérebro produz determinadas substâncias, como a prolactina, que ativam a ação das glândulas lacrimais. Esta, cujas concentrações aumentam em momentos de stress, reduz novamente a sua quantidade quando começamos a chorar; tal como a adrenalina. Este facto, associado à libertação de substâncias como a leucina-encefalina, noradrenalina e serotonina, proporciona-nos uma sensação anestésica e de calma, aliviando a angústia e libertando a tensão (Vomero, M., 2012).
A repressão do choro pode originar diversos problemas de saúde na medida em que, quando choramos expressamos necessidades (redução da tensão, restabelecimento do equilíbrio fisiológico, sinal de pedido de ajuda, redução da agressividade e manipulação do outro), aumentando assim a probabilidade de satisfazer tais necessidades na relação com um outro (tal como quando um bebé chora).
Chorar é portanto natural e, apesar das influências culturais, o choro deve ser entendido como uma externalização necessária que deve ser permitida.

André Viegas
Psicoterapêuta do Luto
Universidade de Barcelona
